segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Histórias - Avareza - Apego



O cofrinho

André, de apenas sete anos, ganhou um pequeno cofre no formato de um porquinho. A partir desse dia, começou a guardar as moedas que ganhava. Sabendo disso, sempre que lhes sobrava alguma moeda, os pais e avós a davam ao menino.
Ao ganhar uma moeda seus olhos brilhavam. Contente, ele corria para o quarto e depositava a moeda no seu cofrinho, cujo peso foi aumentando cada vez mais.
Algum tempo depois, fortes chuvas caíram e André ficou sabendo que um bairro muito pobre fora invadido pelas águas do rio, inundando as ruas e casas. Um grupo de pessoas pedia ajuda para os moradores do bairro, que agora estavam ao
desamparo, após perder casas, móveis e roupas.
André sentiu muita pena dessas pessoas. Quando passaram por sua casa recolhendo auxílio para os flagelados, o garoto pensou que gostaria de ajudar, mas não tinha nada!...
A mãe, recebendo os visitantes informou:
— Quero muito colaborar, porém, no momento aceitem estas peças de roupas.
— Obrigado, senhora. Serão muito úteis! — respondeu o homem com um sorriso.
André, que ouvia a conversa, lembrou-se do seu cofrinho. Ele tinha dinheiro! Correu até o quarto e, tirando o porquinho de cima da mesinha, notou como estava pesado.
Saiu do quarto arcado sob o peso do cofre, quando de repente parou, pensando: Mas essas moedas são tudo o que eu tenho!... Vou dá-las todas?!...  — e fez meia volta, deixando o cofre onde estava.
Naquela noite, a família reuniu-se para o Evangelho no Lar, e a lição era sobre a avareza.
— Papai, o que quer dizer avareza? — André perguntou, curioso.
— Avareza, meu filho, é o apego excessivo que certas pessoas têm ao dinheiro.
Após a leitura, passaram aos comentários. O menino voltou a indagar, preocupado:
— Papai, então o dinheiro é ruim?
— Não, meu filho. O dinheiro é neutro: nem bom nem ruim. Depende do uso que façamos dele. É mau quando leva ao crime, aos vícios e tudo o que seja negativo. Mas também é bom, pois ajuda a construir escolas, hospitais, pontes, socorrer pessoas. Quando guardamos o dinheiro sem objetivo, ele torna-se um peso.
— Ah!... Então não podemos guardá-lo? — tornou o menino.
— Podemos sim, André. O dinheiro que conseguimos economizar é esforço que fazemos pensando no futuro. No entanto, meu filho, as moedas que não nos fazem falta podem representar uma bênção de Deus para os que necessitam.
— Entendi, papai. É como se Deus, através das nossas mãos, tivesse lhes entregado!
— Isso mesmo, filho.
— Mas se o dinheiro foi presente de outras pessoas, mesmo assim podemos doar?
O pai entendeu onde o filho queria chegar e esclareceu:
— Sem dúvida, André! Quando ganhamos algum presente, ele passa a ser nosso e podemos utilizá-lo como acharmos melhor.    
— Ah!... — André calou-se, pensativo.
A reunião foi encerrada com uma prece. Após ligeiro lanche, foram dormir. O menino estava todo animado, desejando que chegasse o dia seguinte.
Mal um raiozinho de sol entrou pela sua janela, André acordou. Arrumou-se, pegou o cofrinho e saiu de casa, tomando o rumo da escola onde as pessoas estavam abrigadas.
Entrando na quadra coberta, ficou muito triste ao ver quanta gente ali estava dormindo no chão: havia crianças, jovens, adultos e idosos. As famílias se mantinham unidas, mas a tristeza era grande e muitos choravam.  
Andando no meio daquela gente, André viu uma família num canto e sentiu-se atraído por ela: eram os pais, quatro crianças e um bebê. “E se fosse eu que estivesse ali no lugar deles?” — a esse pensamento, sentiu-se tocado.
Aproximou-se e estendeu os braços, entregando ao pai o seu pequeno cofre. Uma menina, de três anos, sorriu e bateu
palmas de alegria, dizendo: — Olhem! Que lindo porquinho!...
Todos sorriram e o pai, emocionado, ao ver o peso das moedas, agradeceu o presente. Perguntou-lhe o nome, depois se apresentou, estendendo a mão:
— Eu sou Afonso. Muito obrigado, André, pela sua ajuda! Você não sabe quanto isso representa para nós! Foi Deus que o mandou aqui!...
Os olhos de André umedeceram diante daquelas palavras.
Afonso pareceu pensar por alguns instantes, depois considerou:
— André, se não se importa, eu vou entregar este tesouro que nos deu para a equipe que está nos ajudando. Assim, sua dádiva servirá para comprar comida para todos. Tudo bem?
André sorriu, concordando. Embora criança, notou a grandeza de alma de Afonso que, preocupado com os demais flagelados, não queria se beneficiar sozinho daquilo que recebera.
Após conversar um pouco com a família, o garoto despediu-se prometendo retornar. Pelo tamanho da necessidade daquelas pessoas, decidiu que voltaria trazendo-lhes tudo o que pudesse conseguir. Além disso, pretendia também pedir nas casas, colaborando na coleta a favor dos necessitados.   
André voltou para casa sentindo-se aliviado. Não apenas suas mãos estavam livres de um peso. Sentia o coração também mais leve.
E, lá no fundo do peito, ele notou que um calorzinho gostoso se espalhava por todo o corpo enchendo-o de bem-estar e alegria por ter realizado uma boa ação.  
                                                                  MEIMEI

(Recebida por Célia X. de Camargo, em Rolândia-PR, em 30/01/2012.) 


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