segunda-feira, 11 de junho de 2012

Artigo - O Papel da Arte na Infância


O papel da arte na infância hoje

“As crianças já nascem até de olhos abertos!” Essa é uma afirmação comum de se ouvir atualmente. As crianças estão mesmo muito mais acordadas que na época dos nossos avós.
Estar acordado é estar em vigília, alerta, consciente. Segundo a Antroposofia, a consciência é característica do adulto, conseqüência das suas muitas experiências vividas. Pode-se, inclusive, fazer um paralelo entre consciência e vitalidade. A primeira vai sendo adquirida à medida que consumimos a segunda. Espera-se que um velho, por exemplo, tenha muita consciência, fruto do desgaste de sua vitalidade durante e toda a vida. Uma imagem mitológica que bem ilustra esta dicotomia é o mito de Prometeu.
Mas as crianças estão de olhos muito abertos! Claro que elas vêm ao mundo ávidas por experiência, por conhecer a vida através dos sentidos, de todo o corpo. O que se tem que cuidar é que esse “ir para o mundo” ocorra de forma saudável; é preciso que haja um mínimo de proteção e acolhida, a fim de que a criança amadureça no seu ritmo natural. Esse período de maturação e proteção é o que caracteriza a infância e deveria ser como uma sementeira que abriga calorosamente a semente, ainda tão delicada, da árvore enorme que será no futuro.
E que infância é essa que as crianças estão tendo hoje?
Com a modernidade - que, é inegável, trouxe imensos benefícios para a Humanidade como um todo, inclusive para as crianças -, o ser humano ficou cada vez mais tecnológico e virtual. Tudo é instantâneo, descartável, artificial. Tudo se terceiriza, inclusive essa proteção para a maturação da criança na infância...
Mas algumas vivências simples, naturais, básicas para a plena saúde das crianças, ficam literalmente, esquecidas; entre essas vivências estão a comunicação viva, do olho no olho, do contar histórias “by heart” (de cor); a nutrição física e anímica; o brincar espontâneo, com movimento e imagens.
Temos hoje, então, a criança que não se comunica de forma viva, que não é nutrida globalmente, que não brinca. Por todos esses motivos a arte tem um papel tão fundamental agora: tornou-se higiênica e terapêutica, mais até que em outras épocas, onde a infância não era tão encurtada, as crianças não precisavam se intelectualizar tão precocemente e elas próprias faziam a sua arte, inventavam suas histórias, confeccionavam seus brinquedos com materiais simples, tinham mais contato vivo com a natureza...
A arte vai trazer saúde para a criança em três níveis básicos:
  • No âmbito físico-etérico (do corpo e da vitalidade): desenvolvendo os sentidos básicos, trazendo movimento, ritmo e tirando-as da apatia ou agressividade;
  • No âmbito anímico (da alma, dos sentimentos): possibilitando trocas, trazendo imagens, cores, sutilezas, fazendo as crianças ficarem mais receptivas e menos endurecidas, programadas.
  • No âmbito espiritual (cerne individual): estimulando a criação própria, a atividade interna de associar conceitos, que é única para cada um de nós, buscando a verdade.
Como podemos ajudá-las? Que arte é essa hoje tão necessária? Talvez seja mais simples do que imaginamos. Estamos falando da arte de criar imagens ao nos dirigirmos à criança, pois as imagens, não os conceitos abstratos, são o “pensar” infantil. Criar imagens com histórias e contos adequados a cada idade; criar imagem para sugerir uma brincadeira, usando versos rítmicos, canto, ou o próprio corpo; criar imagens para introduzir cores e formas no desenho, na pintura, na modelagem...
A arte para a infância não demanda a técnica, o saber usar detalhadamente os materiais, conhecer vários recursos. A criança vai aproveitar muito mais um adulto que está disponível por inteiro para ela naquele momento, que olha nos seus olhos, fala a sua linguagem, do que um adulto cheio de conceitos e estudos, por mais aprimorados que sejam.
Assim, através do fazer artístico, a criança pode desenvolver, com vitalidade e saúde, seu pensar, seu sentir e seu agir no mundo, criando uma prontidão para se tornar um adulto mais consciente e feliz.
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